Poemas - Wisawva Szymborska

Começo esse post dizendo que li um dos melhores livros de poesia da minha vida. Não queria parar de ler, porém parava, pois ao mesmo tempo não queria que o livro acabasse. Desfrutei cada palavra, cada verso, cada rima de Poemas da Wislawa Szymborska.

É uma ótima pedida para quem quer começar a ler poesia e não sabe por onde. Tenho certeza que você vai gostar dessa coletânea, pode confiar. A edição que eu li foi da Companhia das Letras, "com seleção, introdução e tradução (excelente, por sinal) de Regina Przybycien, é a primeira oportunidade que tem o leitor brasileiro de lê-la em português. A coletânea de 44 poemas é uma belíssima apresentação à obra dessa importante poeta contemporânea".

Poemas
Wisawva Szymborska
Tradução: Regina Przybycien
168 páginas
14.00 x 21.00 cm
Brochura
Lançamento: 26/09/2011
ISBN: 9788535919578
Selo: Companhia das Letras

Quem seria essa poeta de nome difícil de se pronunciar? Nascida na Polônia, Wislawa desde criança viveu sempre no mesmo loca, na cidade de Cracóvia. Desse fato podemos entender um pouco de sua extrema timidez. A reservada escritora não gosta de se expor, tampouco de falar de sua vida privada e por isso não concede muitas entrevistas (eu, contudo, adoraria entrevistá-la). Segundo ela, sua vida está nos versos que escreve.

Ela não é uma fofa?


É uma poeta do entreguerras. Esse período literário foi marcado pelas transformações na literatura. Buscou-se uma renovação formal e temática, assim como uma linguagem nova e experimental.
Os temas sérios abordados por Wislawa em seus poemas, como a morte e a guerra, foram retratados com humor através de uma linguagem coloquial e acessível. Um de seus admiradores era o escritor Umberto Eco que comentou que a polonesa escrevia "de forma descomplicada sobre as coisas mais importantes".

"Gostaria que o poema contivesse o sublime e o trivial, as coisas tristes e cômicas, lado a lado misturadas".

Muitos de seus versos continham uma reflexão irônica sobre a condição humana e um dos motivos de ter gostado tanto da autora é que esses versos me faziam refletir. Eu ficava pensando, divagando nas ideias, filosofando sobre o que eu lia. Esse efeito no leitor é o que faz um poeta ser bom. Não é à toa que ela também é chamada de poeta filosófica.

Em 1996 ela foi condecorada com o prêmio Nobel de literatura "pela poesia que com a precisão irônica permite o contexto histórico e biológico vir à luz em fragmentos da realidade humana". Além do Nobel, Wislawa recebeu outros prêmios importantes, como o Goethe e Herder, e também foi agraciada com o apelido de Mozart da poesia.

Lá no canal do blog, eu fiz um vídeo comentando sobre o livro e também declamando um dos meus poemas favoritos.


E abaixo você pode ler mais dois incríveis poemas:

Sob uma estrela pequenina
Me desculpe o acaso por chamá-lo necessidade.
Me desculpe a necessidade se ainda assim me engano.
Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.
Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na memória.
Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.
Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.
Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.
Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.
Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco de minuetos.
Me desculpem a gente nas estações pelo sono das cinco da manhã.
Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.
Sinto muito, desertos, se não lhes levo uma colher de água.
E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,
fitando sem movimento sempre o mesmo ponto,
me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.
Verdade, não me dê excessiva atenção.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.
Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro o caminho para mim mesma.
Não me julgues má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.

Repenso o mundo

Repenso o mundo, segunda edição,
segunda edição corrigida,
aos idiotas o riso,
aos tristes o pranto,
aos carecas o pente, 
aos cães botas.

Eis um capítulo: A Fala dos Bichos e das Plantas, 
com um glossário próprio 
para cada espécie. 
Mesmo um simples bom dia
trocado com um peixe,
a ti, ao peixe, a todos
na vida fortalece.

Essa há muito pressentida,
de súbito revelada,
improvisação da mata.
Essa épica das corujas!
Esses aforismos do ouriço
compostos quando imaginamos
que, ora, está só adormecido!

O tempo (capítulo dois)
tem o direito de se meter
em tudo, coisa boa ou má. 
Porém - ele que pulveriza montanhas
remove oceanos e está 
presente na órbita das estrelas, 
não terá o menor poder
sobre os amantes, tão nus
tão abraçados, com o coração alvoroçado
como um pardal na mão pousado. 

A velhice é uma moral
só na vida de um marginal.
Ah, então todos são jovens!
O sofrimento (capítulo três)
não insulta o corpo.
A morte
chega com o sono.

E vais sonhar
que nem é preciso respirar, 
que o silêncio sem ar
não é uma música má,
pequeno como uma fagulha,
a um toque te apagarás.

Morrer, só assim. Dor mais dolorosa
tiveste segurando nas mãos uma rosa
e terror maior sentiste ao som
de uma pétala caindo no chão. 

O mundo, só assim. Só assim
viver. E morrer só esse tanto.
E todo o resto - é como Bach
tocado por um instante
num serrote.

Gostou? Me conta nos comentários o que achou :)

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